terça-feira, 30 de outubro de 2007

LIVE at QUEIMÓDROMO ( 1 )

transcrição de uma cobertura do concerto da queima de 2007, in:

Minnemann Blues Band provou que a diversão não tem idades nem estilos.
Na Queima das Fitas do Porto, "Blues All Night Long" foi o lema.
Ritmo, euforia e até um pouco de rebeldia marcaram o concerto da Minnemann Blues Band na Queima das Fitas deste ano. Passava da uma da manhã, e havia já quem cedesse ao silencioso apelo dos puffs espalhados pela tenda de cine-jazz. Como quem vai ouvir uma história, os estudantes vão-se sentando pelo chão, alinhados, de pernas cruzadas. Chega o baterista, atrasado, e Wolfram Minnemann trata logo de fazer com que os puffs sejam arrumados a um canto: "Tudo de pé, isto não é música de se ouvir sentado". Acabam as hipóteses de fotografias pensadas, estudadas e estrategicamente tiradas. A guitarra e o baixo dão os primeiros acordes.

Caloiros, finalistas, gente que até já nem estudava e até os próprios músicos - subitamente todos tinham a mesma idade, as mesmas (des)preocupações e a mesma vontade de fazer cumprir a promessa que Minnemann não se cansou de repetir: "Blues All Night Long!".

Num esquema de pergunta-resposta a voz rouca de Minnemann contou, a noite toda, desvarios que podiam fazer parte da vida de qualquer um ali presente. Em tom de gozo, de anedota ou simples indiferença, as aventuras em inglês multiplicavam-se, assim como as regulares traduções que facilitavam a compreensão daqueles que já tinham esvaziado os copos. O baixo e a bateria, no escuro, faziam fundo a um piano enérgico e irrequieto, que acompanhava um envolvente diálogo entre guitarra e saxofone.

Em poucos minutos a tenda enche-se de estudantes que sacodem grandes copos de cerveja, trocados e partilhados como numa grande comunidade. Aspirantes a Bob Marley sacodem as rastas e o cheiro a erva intensifica-se. O ânimo da banda não é menor: "O ano passado fomos convidados por uma organização promotora de jazz. Este ano foram os próprios estudantes que pediram para virmos!". O guitarrista desce do palco e oferece a própria guitarra a quem a quiser experimentar.

Apesar de já existir há vários anos, a Minnemann Blues Band continua a dar cartas na divulgação do espírito "Magara", muito em harmonia com as festas académicas: energia, vigor, êxtase - eram sentimentos quase palpáveis num ambiente em que som, álcool e muito fumo tornavam o jogo de luzes quase desnecessário.
A inclusão de uma tenda de cine-jazz na Queima das Fitas pode parecer estranha, até porque este não é o tipo de música mais associado à comunidade estudantil. Mas a verdade é que quem não assistiu ao concerto desde o início procurou um lugar ao fundo, apertado numa multidão de pescoços esticados, e quem aplaudiu os primeiros acordes não se arrependeu, a julgar pela quantidade de vozes que se faziam ouvir ao mínimo sinal dos músicos.

"A sociedade de hoje é de opressão. Os jovens são os que mais o sentem, porque estão sempre preocupados com médias, cursos e emprego, por isso também são os que mais precisam da libertação que é a música". É Minnemann quem o diz, por entre duas passas numa cigarrilha que já deu muitas voltas de uma mão para a outra. Então os jovens aderem a esta iniciativa? "Claro que sim, isto enche!".

Também não é preciso adaptar as músicas à ocasião, até porque não há planos para esta noite: " Temos 45 músicas. Vamos tentar tocá-las todas. Temos de 'agarrar' o público, e vamos escolhendo a música conforme os sentimentos que ele vai mostrando. Blues é comunicação". E comunicação não faltou: houve até quem subisse ao palco e cantasse também, dando voz a uma histeria súbita.
A Minnemann Blues Band só toca originais (*), compostos por Wolfram Minnemann, para quem a banda é mais diversão do que outra coisa. "Blues tem de vir cá de dentro, não dá para tocar só para ganhar dinheiro". De facto, havia muitas alturas em que a música escrita dava lugar ao improviso descontraído, um dançar de dedos bem treinados ao ritmo do bater do pé. Cigarrilha no canto da boca, curtos intervalos para uns goles de cerveja e a música recomeçava, como quem faz uma pausa na conversa para tomar o café.
Crítica era apenas a localização da tenda, onde se ouviam as batidas das barracas do lado e da tenda TMN, as quais o baterista, em tom de gozo, chegou a tentar acompanhar. Actuar enquanto há concertos no palco principal, então, nem pensar.
Passava já das cinco e meia quando a organização pediu o fim do concerto. Manuzé (baixo), Cenoura (bateria), António Mão de Ferro (guitarra), Rui Azul (saxofone) e Wolfram Minnemann (piano e voz) despediram-se com a última de uma série de solos que deliciaram o público toda a noite. Lá fora já amanhecia.
Literalmente, "Blues all night long".

(*) - ... quase "só"...!, amiga Marta. O "Saint James Infermary" e "I Got My Mojo" são de W. C. Handy e de Muddy Waters, respectivamente. ( nota em jeito de correcção, da MBB )

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